domingo, 16 de março de 2008

SUCESSÃO NOS EUA / EM APUROS

Pastor de Obama incendeia disputa

"Hillary nunca foi chamada de negona", disse Jeremiah Wright em sermão que vira hit no YouTube


Líder da igreja do candidato polemizou ao dizer que os EUA atraíram o 11 de Setembro; senador tenta se afastar e rejeita declarações


É um dos sermões de despedida do pastor Jeremiah Wright. O dia é 25 de dezembro último. O cenário, a Igreja Unida da Trindade de Cristo, em um subúrbio de Chicago, em Illinois. Ele está de branco, com gravata e cachecol roxos e um colete escuro. "Só percebi nos últimos dias por que tanta gente está criticando Barack Obama", começa. "É que ele não se encaixa nos padrões."Wright, 66, assumiu o comando da Igreja Unida da Trindade de Cristo em 1972. Sob sua tutela, a igreja protestante virou afrocentrista e, como querem seus detratores, ultra-radical. Ele é o pastor de Obama.Nessa manhã de Natal, começa a se exaltar. "Hillary nunca foi definida como uma não-pessoa", grita. "Hillary nunca foi chamada de negona", diz, usando a palavra pejorativa "nigger", em inglês.Em outro sermão, logo após o 11 de Setembro em Nova York, Wright disse que os EUA foram responsáveis pelos ataques. "Bombardeamos Hiroshima, Nagasaki, explodimos muito mais do que os milhares em Nova York e no Pentágono (...) e agora estamos indignados porque o que fizemos voltou para o nosso quintal", disse, citado pelo "New York Times".A igreja tem o costume de gravar alguns cultos e vender depois para os fiéis que o perderam ou querem ter o vídeo por algum motivo especial. Alguns foram parar no YouTube e, nas últimas horas, vieram bater na porta da campanha de Obama. Desde que resolveu concorrer à Presidência dos EUA, o pré-candidato procura se descolar publicamente da figura de Jeremiah Wright.Mas, na segunda autobiografia, descreve a importância que ele teve em sua vida. Ele foi batizado, batizou as filhas na igreja e também se casou ali. O livro, a "A Audácia da Esperança", tomou o título emprestado de um dos sermões do pastor.Não o do último Natal, obviamente. Sobre esse, o comando da campanha a princípio soltou um comunicado menos duro. Com o crescer da polêmica na blogosfera, até virar tema do programa da CNN "360º", de Anderson Cooper, na sexta à noite, Obama escreveu um texto a respeito e foi ao ar na rede se distanciar do líder religioso, a quem agora chama de "o pastor de minha igreja"."Eu discordo veementemente e condeno fortemente as declarações que foram objeto de controvérsia", escreve o candidato. "Denuncio categoricamente qualquer declaração que sirva para nos dividir de nossos aliados. Rejeito diretamente as declarações em questão do reverendo Wright."Então, relembra o que escreveu em seu livro. "Em outras palavras, ele nunca foi meu conselheiro político; ele foi meu pastor." Ainda assim, nas horas seguintes, o comando de Obama anunciaria que o pastor foi "desligado" de suas atividades junto à campanha.