quarta-feira, 23 de julho de 2008

Portugal-Caso Madeleine-Ex-policial afastado da investigação publica livro

"Madeleine morreu no apartamento’’

Gonçalo Amaral, ex-policial afastado do caso, acredita que a menina Madeleine McCann morreu no apartamento da Praia da Luz. O episódio das férias em 2005, em Maiorca-em que são levantadas suspeitas sobre um amigo do casal-e os resultados de DNA são os primeiros trechos.

Madeleine Beth McCann, com 2 anos e meio, e os seus irmãos gémeos, na ocasião com poucos meses de idade, partem de férias na companhia dos pais para a ilha de Maiorca. Juntamente com eles vão outros três casais de médicos com os respectivos filhos.

[...] S. G. tinha frequentado a Universidade de Dundee, entre 1987 e 1992, tendo ali conhecido a futura mãe de Madeleine. K. G. só veio a conhecer Gerry McCann no casamento deste com Kate Healy, por volta de 1998, em Liverpool. Depois daquele evento, o casal S.G. e K.G. tornam-se amigos íntimos dos pais de Madeleine, encontrando-se com regularidade, passando fins-de-semana juntos, mantendo contacto por telefone.

Na terceira ou quarta noite em Maiorca, depois do jantar, comendo e bebendo, quando se encontravam sentados ao redor de uma mesa num pátio exterior da casa, K.G. assiste a uma cena que lhe causa receio relativamente ao bem-estar da sua filha e das outras crianças. Estava sentada entre Gerry McCann e David Payne, quando ouviu este último perguntar se ela, talvez referindo-se a Madelein, faria ‘isto’, começando em ato seguinte a chupar um dos seus dedos, o qual entrava e saía da boca, insinuando um objecto fálico, ao mesmo tempo que, com os dedos da outra mão, fazia círculos à volta do mamilo, de uma forma provocadora e sexual. No momento em que K.G. olhou com estupefacção para Gerry McCann e para David Payne, fez-se um silêncio nervoso. Depois continuaram todos a conversar como se nada tivesse acontecido. Este episódio provocou em K.G. uma séria dúvida relativamente ao relacionamento de David Payne com crianças. Ainda noutra ocasião, K.G. voltaria a ver David Payne a fazer os mesmos gestos, desta vez falando da própria filha. Naquele período de férias eram os pais que davam banho às crianças, mas a partir dali K.G. nunca mais deixou o David Payne aproximar-se da sua filha. Depois dessas férias em Maiorca, K.G. só encontrou o casal David e Fiona Payne numa ocasião, não falando com eles desde essa altura.

[...] O que acima fica escrito foi relatado a 16 de Maio de 2007, treze dias apenas depois do desaparecimento de Madeleine à polícia inglesa, pelo casal S. G. e K. G. Era uma informação importante e pertinente para a investigação. No entanto, nada foi transmitido à polícia portuguesa.

[...] Penso que só depois da minha saída da investigação, talvez em finais de Outubro de 2007, é que o depoimento de K.G. terá sido remetido à polícia portuguesa. Com legitimidade se pergunta: qual a razão da polícia inglesa ter, ao que tudo indica, ocultado aquele depoimento durante seis meses? Quando souberam que David Payne, organizador da viagem a Maiorca, e a quem foram assinalados comportamentos anómalos no relacionamento com as crianças, era o mesmo que organizou a viagem a Portugal, que fazia parte do grupo de férias da aldeia da Luz onde se integrava Madeleine, que foi o primeiro amigo da família a ser visto ao lado de Kate McCann após o desaparecimento da criança (como adiante se verá) e que na data do depoimento ainda se encontrava em Portugal, podendo ser confrontado com estas declarações?

"[...] Nos primeiros dias de Setembro, poucos dias antes da constituição como arguido do casal McCann, o Superintendente Stuart Prior, desloca-se a Portimão. Traz com ele um primeiro relatório preliminar [do laboratório forense de Birminghan], vindo discutir o estado da investigação connosco. Numa reunião, com a equipa de investigação portuguesa e inglesa, no nosso gabinete, Stuart mostra-se desiludido com os resultados dos exames. Começa aqui a saga dos relatórios do FSS. Lemos o relatório e não concordamos com a desilusão de Stuart. Estão em causa os vestígios hemáticos recolhidos no chão, por detrás do sofá do apartamento 5A, bem como os vestígios hemáticos recuperados da bagageira da viatura usada pelos McCann. Falamos em vestígios hemáticos (sangue) porque o cão CSI é treinado para só detectar esse fluido corporal. Os relatórios de apoio à tomada de decisão, elaborados pelos especialistas Mark Harrison e Martin Grime, são claros: a cadela CSI foi usada para localizar sangue humano. O Low Copy Number, técnica utilizada para determinar o DNA daquelas amostras, não determina de que fluido corporal é proveniente o DNA. No primeiro caso, pode-se ler que se obteve um resultado de ADN incompleto, por pouca informação existente na amostra, apresentando indicações de DNA de baixo nível provenientes de mais de uma pessoa. Mas todos os componentes confirmados de ADN coincidem com os componentes correspondentes no perfil de DNA de Madeleine!

Quanto ao segundo caso, após uma explicação dos componentes de DNA do perfil de Madeleine, concluindo que o mesmo é representado por 19 alelos, conclui-se que 15 estão presentes na amostra examinada. Ou seja, faltam 4 componentes para se ter um resultado 100% conclusivo. Segundo os especialistas daquele laboratório, aqueles 15 não chegavam para se concluir, com um grande grau de certeza, que estávamos perante o perfil de ADN de Madeleine, até porque o Low Copy Number encontrou 37 componentes na amostra. Existiriam 37 componentes porque pelo menos três indivíduos contribuíram para esse resultado. Apesar de terem sido encontrados 15 componentes do perfil de DNA de Madeleine, o resultado era considerado complexo.

Mas não se ficava por aqui este primeiro relatório preliminar. No mesmo, o cientista teve o cuidado anormal de explicar que em muitos dos perfis dos peritos do laboratório estão presentes elementos do perfil de DNA de Madeleine. Ou seja, grande parte do perfil de DNA de uma qualquer pessoa pode ser construído por três dadores. É compreensível. Desde logo se levantaram duas questões. A primeira: para que servia, em termos de prova criminal, um perfil de DNA, se ele pode ser a combinação de três ou mais dadores.

Mas não se ficava por aqui este primeiro relatório preliminar. No mesmo, o cientista teve o cuidado anormal de explicar que em muitos dos perfis dos peritos do laboratório estão presentes elementos do perfil de DNA de Madeleine. Ou seja, grande parte do perfil de DNA de uma qualquer pessoa pode ser construído por três dadores. É compreensível. Desde logo se levantaram duas questões. A primeira: para que servia, em termos de prova criminal, um perfil de DNA, se ele pode ser a combinação de três ou mais dadores.

Outra questão era simples: por que é que o perfil de DNA daqueles três dadores contribuiu para 15 componentes do perfil de DNA de Madeleine e não de qualquer outra pessoa, por exemplo, do próprio cientista que efectuou o exame? Mas as surpresas dos relatórios preliminares não iriam ficar por aqui. [...]